A decretação da prisão domiciliar de Jair Bolsonaro pelo ministro Alexandre de Moraes provocou um abalo na pré-campanha da direita e reconfigurou a disputa pela liderança do campo bolsonarista. A medida foi motivada pelo descumprimento de medidas cautelares, após o ex-presidente participar, por telefone, de uma manifestação no Rio de Janeiro. Bolsonaro estava proibido de usar redes sociais, mesmo por meio de terceiros, e deveria cumprir recolhimento noturno e uso de tornozeleira eletrônica.
A decisão antecipou um cenário que os aliados esperavam apenas para novembro, após o julgamento do inquérito sobre tentativa de golpe. Com a saída forçada de Bolsonaro da articulação política, o Partido Liberal (PL) agora vê a necessidade de acelerar a definição de um sucessor viável. Inicialmente, nomes próximos ao ex-presidente ganham força, como os filhos Flávio e Eduardo Bolsonaro, além da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
No entanto, cresce a pressão sobre governadores alinhados à direita, como Tarcísio de Freitas (SP), Ratinho Júnior (PR), Ronaldo Caiado (GO) e Romeu Zema (MG), para que adotem um discurso mais radical em defesa de Bolsonaro. A ausência do ex-presidente, que funcionava como mediador de conflitos internos no PL, pode agravar divisões dentro do partido.
As reações dos governadores foram distintas e revelaram fissuras. Tarcísio manifestou apoio a Bolsonaro, mas sem criticar Moraes, o que irritou aliados. Ratinho seguiu linha semelhante, o que foi interpretado como cautela. Já Caiado criticou o julgamento antecipado de Bolsonaro, mas também evitou mencionar o STF. Romeu Zema foi o único a atacar diretamente Moraes, classificando a decisão como “mais um capítulo sombrio na perseguição política” e expressando solidariedade ao ex-presidente.
A expectativa é que, até a manifestação marcada para o 7 de Setembro, os posicionamentos desses governadores sejam decisivos para determinar quem poderá herdar o capital político bolsonarista. Internamente, há temor de que a ausência de Bolsonaro aumente a desorganização e os conflitos dentro da direita.


