A enfermeira Taynara, de 23 anos, cresceu em Carambeí (PR) ao lado da irmã gêmea, Tamiris, que perdeu a visão ainda bebê por complicações em um hospital que já não existe mais. Hoje, formada e atuando na área da saúde, ela afirma que a história da família influencia diretamente sua forma de exercer a profissão.
A história começou em 2002, quando ela e a irmã, Tamiris, nasceram prematuras de seis meses e meio. A gestação já era de risco por ser gemelar, e a mãe precisou ser transferida para o Hospital Evangélico de Ponta Grossa. O local fechou pouco depois, por falhas e falta de profissionais. As gêmeas precisaram ser encaminhadas para União da Vitória, onde passaram um mês em incubadoras.
Foi nesse período que Tamiris perdeu a visão. “Bebês em incubadora ficam com uma faixa nos olhos durante a fototerapia, e também há riscos durante reanimações, se não houver ventilação correta. Isso pode causar sequelas graves, como a cegueira”, explicou Taynara.
A confirmação veio mais tarde, com diagnóstico de queimadura da retina. Uma cirurgia chegou a ser realizada para tentar preservar o olho, mas a visão foi totalmente comprometida. “Meus pais receberam a notícia com muito sofrimento, mas logo começaram a buscar apoio”, contou.
Aos 14 anos, Tamiris passou a ter acompanhamento do PADEF (Programa de Apoio à Pessoa com Deficiência), mas até então o aprendizado havia sido garantido pelo esforço da família e de professores. “Fizemos cursos de braile, aprendemos métodos de cálculo adaptado, uso da bengala e outros recursos táteis para facilitar a vida da minha irmã”, disse Taynara.
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Com o tempo, a convivência com a deficiência moldou o caminho da jovem. “Na faculdade, quando tive a disciplina de neonatologia, percebi ainda mais o quanto a minha história influenciava essa escolha. Já em terapia, com minha psicóloga, entendi que a motivação estava ligada a esse instinto de cuidado e ao que vivi com a minha irmã”, explicou.
Hoje, Taynara trabalha na ala que era maternidade do hospital em que deveria ter nascido: “O erro que tirou a visão da minha irmã influencia diretamente no modo como eu trabalho. Sou muito comunicativa e cobro constantemente a minha equipe sobre prevenção de falhas. Pequenos descuidos podem ter consequências para uma vida inteira. O profissional pode esquecer e seguir para outro paciente, mas a família e a pessoa ficam com as sequelas para sempre”.
A irmã, por sua vez, encontrou no esporte um novo caminho. Tamiris se formou em Pedagogia e é atleta paralímpica, atuando no goalball pela Seleção Juvenil e também em corridas de 100 e 200 metros. Em 2009, ainda criança, venceu um concurso de redação com a frase: “Espero que quando eu crescer, o mundo que eu não vejo continue como eu imagino”.
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