Localizada a 5.000 metros de altitude nos Andes peruanos, La Rinconada é considerada a cidade mais alta e remota do mundo. Com cerca de 50 mil habitantes, a maioria envolvida na mineração de ouro, a cidade é marcada por condições extremas de vida, onde a expectativa de vida gira entre 30 e 35 anos.
Conhecida como o “Paraíso do Diabo”, La Rinconada enfrenta temperaturas congelantes, falta de saneamento básico e alto índice de contaminação por mercúrio — metal tóxico usado para separar o ouro das rochas. A água utilizada nas minas é despejada diretamente na natureza, contaminando rios e até o Lago Titicaca, o maior da América do Sul, afetando comunidades agrícolas e a biodiversidade da região.
A cidade vive um cenário de violência e ilegalidade. Conflitos entre mineiros são comuns, com relatos de assassinatos dentro dos túneis, tráfico de mulheres e ameaças a autoridades com dinamite. A presença de forças policiais é frequentemente rejeitada com hostilidade.
As mulheres, proibidas de entrar nas minas por crendices locais que dizem que o espírito feminino da montanha ficaria enciumado, trabalham nos rejeitos deixados pelos homens, buscando fragmentos de ouro. Eva Chura, uma dessas mulheres, relata que em uma semana pode encontrar entre um e dois gramas de ouro, o que, no mercado negro, pode render entre R$260 a R$520 (com base na cotação de aproximadamente R$5,20 por dólar). Em semanas de sorte, pode chegar a 20 gramas, o equivalente a cerca de R$5.200.
Apesar da miséria e da poluição, muitos continuam em La Rinconada por falta de alternativas. Eva, que chegou há 12 anos com seus filhos, afirma que mesmo vivendo entre lixo, frio e doenças, continua lutando por um futuro melhor para sua família. “Os filhos te dão força e coragem para trabalhar”, diz.
A cidade, que já forneceu ouro para grandes empresas de eletrônicos e joalherias, também foi alvo de investigações. Em 2018, uma refinaria suíça deixou de comprar ouro da região após denúncias de envolvimento com o crime organizado.
