A brasileira Raquel Canterelli, que vivia na Irlanda com o ex-companheiro irlandês e as duas filhas, Júlia e Isabella, enfrenta uma longa batalha judicial para recuperar a guarda das meninas. Em 2019, Raquel relatou ter sido vítima de cárcere privado e violência doméstica por parte do ex-companheiro, que também teria abusado sexualmente da filha mais nova, então com menos de dois anos.
Após conseguir ajuda da embaixada brasileira e fugir com as filhas para o Brasil em 2023, Raquel teve as meninas retiradas de sua casa no Rio de Janeiro pela Polícia Federal, em cumprimento a uma decisão judicial baseada na Convenção de Haia. A operação, classificada por ela como “traumática e desumana”, devolveu as crianças ao pai na Irlanda, onde vivem desde então.
O caso ganhou novos contornos em 2025, quando o Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou que as meninas devem retornar ao Brasil, reconhecendo os episódios de violência relatados por Raquel. No entanto, o cumprimento da decisão ainda depende das autoridades irlandesas.
Raquel afirma que, durante o processo judicial na Irlanda, não teve acesso a um advogado e que a juíza responsável pelo caso tinha vínculos com a família do ex-companheiro. Ela relata que a guarda foi concedida ao pai das meninas sem que ela fosse ouvida. A fuga da Irlanda envolveu uma rota por País de Gales, Londres, Amsterdã, Bruxelas, Porto e Lisboa, até o retorno ao Brasil com apoio da Polícia Federal.
Do outro lado, a defesa do pai nega todas as acusações, alegando que não há provas contra ele e que Raquel retirou as filhas ilegalmente do país. O Ministério Público Irlandês arquivou as investigações por falta de evidências, apesar da apreensão de computadores e celulares do acusado.
A disputa judicial segue em meio a interpretações divergentes da Convenção de Haia, que prioriza o retorno de crianças ao país de residência habitual. Raquel ainda não tem contato com as filhas desde que foram levadas de volta à Irlanda, e sua luta agora se concentra na execução da decisão do STJ.


