
Richard Strauss, um dos mais importantes compositores da história da música alemã, é lembrado tanto por sua genialidade musical quanto por sua controversa relação com o regime nazista. Autor de obras-primas como as óperas Salomé e Der Rosenkavalier, Strauss chegou a ocupar um cargo de destaque na Alemanha de Hitler, assumindo, em 1933, a presidência da Reichsmusikkammer, órgão que regulava a música no Terceiro Reich.
Apesar da posição, Strauss afirmava estar acima da política e dizia ter aceitado o cargo com a intenção de proteger músicos e preservar a arte. Ele se recusou a banir compositores judeus e manteve laços com colegas judeus como Stefan Zweig, autor do libreto de sua ópera Die Schweigsame Frau. Uma carta enviada a Zweig, interceptada pela Gestapo, revelou sua oposição velada ao regime e resultou em sua demissão e na censura da ópera.
Embora tenha sido rotulado por alguns como “compositor hitleriano”, Strauss também foi profundamente afetado pela perseguição nazista. Sua nora, Alice, era judia, assim como seus netos. No final da guerra, Alice foi presa e seus familiares enviados ao campo de concentração de Terezín. Strauss tentou interceder pessoalmente por eles, mas não conseguiu salvá-los.
Após a guerra, em 1948, foi liberado por um conselho de desnazificação, mas sua reputação permaneceu manchada. No centenário de seu nascimento, em 1964, as homenagens foram discretas, e sua música foi banida em países como Israel. Apenas em 2014, no 150º aniversário de seu nascimento, sua obra voltou a ser amplamente celebrada, reacendendo o debate sobre a separação entre a arte e a biografia do artista.
A trajetória de Strauss é marcada por um dilema moral: entre a sobrevivência artística sob um regime autoritário e a fidelidade a seus princípios. Enquanto sua música continua a emocionar plateias ao redor do mundo, sua vida pessoal permanece como um estudo complexo sobre ética, arte e história.


