
Muito antes da chegada dos colonizadores europeus à América do Sul, o Império Inca já contava com um sofisticado sistema de registro de informações: os quipus. Compostos por cordões coloridos com nós estrategicamente posicionados, esses artefatos serviam como uma forma de escrita e contabilidade, permitindo que os incas organizassem dados sobre população, impostos, produção agrícola e eventos importantes.
Os quipus eram feitos de algodão ou lã de alpaca e vinham em diferentes cores, tamanhos e padrões de nós. Cada característica — como a cor do cordão, o tipo de nó e sua posição — tinha um significado específico. Embora os estudiosos ainda não tenham decifrado completamente o sistema, acredita-se que os quipus funcionavam como uma linguagem codificada, acessível apenas a especialistas chamados de “quipucamayocs”.
Esses “leitores de quipus” eram treinados desde jovens para interpretar e criar os registros, desempenhando papel fundamental na administração do vasto império, que se estendia por milhares de quilômetros na Cordilheira dos Andes. A confiabilidade e eficiência dos quipus eram tamanhas que os incas conseguiram manter controle sobre milhões de pessoas sem o uso da escrita tradicional como a conhecemos.
Com a colonização espanhola, o uso dos quipus foi proibido e muitos deles destruídos por serem considerados instrumentos pagãos. No entanto, centenas de exemplares sobreviveram e hoje estão sob estudo de arqueólogos e linguistas, que buscam entender melhor essa forma única de comunicação.
Pesquisas recentes sugerem que os quipus podem ter ido além da contabilidade e também transmitido narrativas e histórias, o que ampliaria ainda mais sua complexidade e importância cultural. A redescoberta e valorização dos quipus não apenas revelam a inteligência administrativa dos incas, mas também desafiam a ideia de que a escrita só pode existir em forma de símbolos gráficos sobre papel ou pedra.


